sábado, 30 de julho de 2016

O CÉREBRO EM FORMAÇÃO (o cérebro adolescente). Neurogênese? Hormônios?

                                                                              Gilson Lima
Cientista, inventor, compositor, professor universitário e pesquisador industrial



Diálogo da simbiogênese (Gilson Lima) com Suzana Herculano-Houzel


A mente, os estados de mentitude estão envolvidos numa simbiose complexa com nosso encéfalo[1].
Nosso encéfalo é uma estrutura física complexa. É uma realidade biofísica que é orgânica, molhada, úmida, não é uma realidade seca e morta. Quando está vivo e em plena atividade (vitalidade) nosso encéfalo é também envolvido por uma sofisticada rede elétrica de circuitos e de comunicação informacional e de pensamentos que fluem numa velocidade impensável para nossos medidores atuais, apesar de operar em baixa frequência medida em hertz, mas é também uma rede de comunicação química e, o mais interessante não é um órgão estático.
Assim como no Universo, muito do ingrediente básico da vitalidade de nosso encéfalo é a energia, uma energia em constante movimento, gerando atividade elétrica. No entanto, mesmo sendo a velocidade do pensamento atualmente imensurável, como disse: nosso encéfalo produz um sinal eletromagnético razoavelmente de baixa frequência medida em hertz num eletroencefalograma. 
O mais forte dos sinais eletromagnéticos do corpo humano é gerado pelo coração. A intensidade do sinal do coração é 40 a 60 vezes mais intensa do que a do cérebro. O entanto a simbiose energética em nossos estados de mentitude é bem complexa. Emoções negativas como medo, frustração, raiva ou tensão diminuem intensamente a coerências das ondas eletromagnéticas do coração. Isso faz com que o sistema mente-corpo perca energia. Emoções positivas como amor, cuidado, compaixão e estima, ao contrário, aumentam a sequência dessas ondas. O equilíbrio e o desequilíbrio entre apenas esses dois subsistemas (encéfalo e coração) é extremamente significante também para a geração das memórias de longo prazo.
Nosso encéfalo nasce, cresce, desenvolve. Mesmo quando fisicamente passa de crescer, não para de complexificar-se.[2] Viver em estado permanente de embrião é termos sempre presente a deformação no próprio embrião. Isso nos torna, ao mesmo tempo, fragilizados e potentes na escuta do sensível diante dos atravessamentos do mundo. Os adultos são supostamente pessoas acabadas, fechadas, construídas. Os adultos são tentados pelos jovens com as suas imperfeições, com as suas irresponsabilidades e com as suas capacidades de se aventurarem frente ao novo – até mesmo ao leviano.[3]
É na metamorfose da forma – que tenciona mudar a própria forma – que encontramos o segredo da escuta do sensível. Ao estarmos colados à nossa própria forma, o mundo reduz-se e submetemos nosso viver a uma constante escassez de mundo.

Como o Cérebro aprende? Neurônios Espelhos?....
Reprodução (espelhamento) x Criação (insigth – criatividade aplicada).
Estabelecendo conexões entre o plano da realidade micro e macro.

Aqui sugiro uma leitura do artigo sobre neurônios espelhos (como o cérebro aprende) e uma leitura para problematizar os processos de criação de duas prosas de meu livro: 1) Por que o novo é novo (pagina 331-336) e, principalmente, o texto Racionalização x Insigth (pgs. 303-324).

Como nos diz, Penroese abordagem da mente indissociável e inseparável da sua dimensão física é fundamental para entendermos a consciência e a complexidade. Nenhuma variável é separada da outra. Nossos cérebros não são computadores. Nossos biofótons se encontram em esboroamento de sistemas e não se reduzem a variáveis isoladas. O pensamento é um sistema complexo não separado da auto-organização da matéria, ou seja, a imaginação pensante não se reduz à energia mental elétrica e mecânica produzida por seus processos de ligações e religações ondulatórias subjacentes. Pensar é exercitar trocas e lutas em auto-organização produtiva do pensamento também integrado no mundo e na natureza.
As ondas captadas e radiadas pela matéria cerebral permitem interpretar e auto-organizar a realidade pela consciência, isto implica que o vir a ser da auto-organização não é separado da matéria cerebral. A linguagem não pode ser separada das partículas e corpúsculos de ondas e biofótons geradores de consciência. O cérebro é matéria formada por ondas que pela complexidade auto-organizada dessa mesma matéria e espírito torna-se consciência. O cérebro permite a matéria se auto organizar em consciência é uma gênese complexa do processo organizacional (sociologia, ecologia, física,...).

Todavia, é necessário estarmos atentos ao que nos lembra Baudrillard que o novo também assume máscaras para se camuflar, de que vivemos num mundo onde cada vez mais existe informação disponível e cada vez menos sentido[4]. Por que então uma forma se esconde? Camufla-se? O que a forma aprisiona? Aqui se encontra um dos maiores desafios da imaginação criativa: liberar a vida e não deixá-la ser novamente aprisionada, ensurdecida e cega – onde ela se encontra escravizada; devolver a criação estética da existência e não apenas enclausurar aprisionar a arte de viver em locais que expressam muito bem o que nos lembrou o falecido músico e poeta Cazuza: “num museu de grandes novidades”. Clausuras que querem nos retiram do espaço público efetivo e nos impõe a convivermos em novas ou em velhas instituições de prisões, como shopping centers, condomínios fechados, guetos e novas tribalizações plastificadas onde multidões enchem “templos” de consumo em ajuntamentos protegidos dos reais e efetivos ruídos e choros de um mundo industrial que ao mesmo tempo em que se decompõe e precariza seu tecido social permite que de sua crise de realização complexa não emerja o novo e que apenas nos impele a aderir e emoldurar o “novo” em novos  petrificadas subjetividades que são muito artificialmente fabricadas.[5]
Enfim, para preservar um estado de inacabamento embrionário, temos que romper a segurança das fortalezas que nos aprisionam e reencontrarmos a significância da fraqueza reveladora da força criadora. É preciso enfrentar, para isso um tipo específico de gorda saúde cognitivista, conteudista, auto-suficiente, pronta, construída que é uma doença que nos deixa cegos e surdos, ou seja, nos torna em seres escassos dos ruídos do mundo.[6]

Se conseguires estabelecer pontes entre as duas questões (aprendizagem –espelhamento e produção do conhecimento novo) seria interessante. Caso encontre dificuldades, concentre no processo do espelhamento e faça conexões com o livro do Cérebro em transformação.



[1] Importante: Falar em encéfalo em vez de cérebro aqui é proposital, pois por um problema de tradução para o português o encéfalo foi reduzido ao cérebro, deixando de lado assim quase um terço do encéfalo que é composto também pelo cerebelo.
[2] Alguns neurocientistas defendem e tentam demonstrar também o fenômeno da neurogênese. Trata-se da possibilidade de mesmo quando adulto o encéfalo criar até mesmo novas células neuronais. Já sabemos que os caminhos e os trajetos de conectividade especialista que envolvem as intrincadas conexões neuronais podem ser alteradas, mas trata-se, nesse caso, de uma idéia onde neurônios que padecem, possam ser também substituídos pr novos, o que dotaria o encéfalo de ainda mais complexidade e os estados de mentitude de um elevado e permanente estado embrionário.

[3] LIMA,Nômades de Pedra,  2005, 329.
[4] BAUDRILARD, Jean. Simulacro e Simulação. Lisboa: Relógio d’ Água. 1991, p. 104.
[5] LIMA, Nômades de Pedra,  2005: 308-309.
[6] PALBEART, Peter Pál. A Vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000, p. 63-65.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

O QUE CHAMAMOS DE STRESS É UMA DOENÇA DAS SOCIEDADES DA MODERNIDADE E ECONOMIA INDUSTRIAL



“Festina Lent”
(provérbio italiano = apressa-te lentamente).

Gilson Lima[1]

O Stress é algo natural, de vital importância e criado na evolução para defender o nosso corpo dos perigos e ataques de predadores. Diante de ameaças nosso cérebro prepara nosso corpo para enfrentar: ejeta adrenalina para diminuir ou zerar a dor, cortisol para aumentar nossa agilidade e resistência e intensifica a ação da amigdala (um núcleo interno cerebral responsável pelas emoções como medo e ameaças).
Aquilo, porém que chamamos de stress é uma doença social adquirida e inventada, principalmente, a partir da economia industrial. Uma tensão nervosa permanente, uma patologia que ativa, os mesmos processos primários de defesa do corpo, mesmo quando não estamos sendo atacados ou submetidos por um determinado perigo ou ameaça. Uma doença histórica, cultural e inventada e que só pode ser curada socialmente, não apenas individualmente.
Não se trata de um problema moral, mas um problema social, econômico que descapitaliza a criatividade aplicada, a bondade, a solidariedade, a atração social entre o mundo e as pessoas e injeta a violência e o desespero sutil  ou bárbaro.
Nenhuma ideia, dessas antes da modernidade industrial, o homem viveu. Essa tamanha obsessão de medir e se submeter cientificamente o controle do tempo. De valorizar, premiar quem conseguisse otimizar cientificamente o seu tempo, de produzir ou consumir mais com a menor quantidade de segundos.
Segundo Domenico de Masi “Nem mesmo os escravos da Grécia e na Roma pagã, trabalhavam mais do que seis horas por dia. Salvo casos excepcionais, como a construção de muros de defesa ou a preparação de festas, a corrida pertencia ao mundo da ginástica; já a dedicação em regime de tempo integral, pertencia à guerra”.  (DE MASI, 2003: 600)[1].
Nós, os humanos, na era industrial, vivemos a ânsia da velocidade, a hipnose de conexão em tempo real, a alucinação do tempo sem espaço. Uma aceleração sem trégua, um auto-acelerar-se permanente.   
Domênico de Masi, nos lembra dum episódio interessante: no começo do Século XX, um chefe indígena das ilhas Samoa – Tuiavii de Tiavea – teve a oportunidade de realizar uma viagem a Europa e de escrever uma espécie de reportagem antropológica sobre usos e costumes dos brancos europeus que ele chamou de Papalagi. Vejamos:

 “O Papalagi está sempre descontente com seu tempo e se lamenta com o Grande Espírito porque não lhe deu tempo bastante... Nunca entendi bem essa coisa e penso que se trata e penso que se trata mesmo de uma grave doença. `O tempo me escapa ´, `O tempo corre como um potro enlouquecido!´, `Me dê um pouco de tempo´. Essas são as queixas habituais que fazem os homens brancos... Suponho que seja uma doença porque o homem branco tem vontade de fazer algo que seu coração deseje de verdade, por exemplo, andar ao sol, ou passear no rio com uma canoa e queira amar sua menina, assim estraga toda sua alegria, atormentando-se com o pensamento: `Não tenho tempo de estar contente.´... Há  Papalagi que afirma nunca ter tempo. Correm em volta como desesperados, como possuídos pelo demônio e onde quer que estejam fazem o mal e provocam mal-estar e criam espanto porque perderam seu tempo”.

Continuamos a repassar essa doença as crianças e jovens, naturalizamos que o mal estar embrutecedor que sabotam nossa inteligência, onde viver e conviver se torna apenas um instante, nada mais que um instante que já se foi. Podemos inventar uma nova e mais radical modernidade reflexiva, onde podemos nos apressar para que possamos conviver e viver lentamente.




[1] Cientista, inventor, escritor, compositor, cantor, professor universitário e pesquisador industrial.
(2) MASI, Domenico. Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.