quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Seu Cérebro no Google



Gilson Lima. Doutor em sociologia das Ciências envolvendo metodologias informacionais de processos e produtos de sistemas com alta complexidade. Pesquisador do CNPq.
Professor interdisciplinar de Reabilitação e neuroaprendizagem - Porto Alegre. Brasil. Pesquisador e Sócio Proprietário da NITAS LTDA: inovação e tecnologia – com atividades na área da interface  entre corpo-cérebro-mente-máquina visando gerar novos produtos e processos de políticas de reabilitação envolvendo situações críticas de déficits e lesões. MEMBERSHIP e coordenador para a América Latina (2005-2010) do Comitê de pesquisa RC46 CLINICAL SOCIOLOGY da ISA - International Sociological Association

Sabemos que o circuito neural do cérebro responde a cada momento qualquer entrada sensorial que recebe, e que muitas horas as pessoas gastam em frente ao computador – “linkando” na internet, trocando e-mails, vídeo conferências, mensagens instantâneas e comércio eletrônico – expõem seus cérebros a estimulações cerebrais constantes. Em pesquisa realizada com o patrocínio do Google pode-se ver quanto desse impacto em longo tempo de interação computacional esta promovendo novos circuitos neurais do cérebro. Vemos não apenas novas trilhas para novos comportamentos sendo realizadas, mas as vemos ocorrendo numa velocidade muito maior do que realizávamos antes de ficarmos grudados na frente das telas conectadas em redes interativas. Podemos hoje observar os cérebros de crianças, jovens, adultos e velhos construindo novos caminhos, mas não sabemos totalmente mensurar e entender totalmente essas mudanças e como elas ocorrem.

Eu contei com a ajuda das Drs. Susan Bookheimer e Teena Moody que são especialistas em neuropsicologia e neuroimagem. A nossa hipótese de pesquisas com usos de computadores e outras atividades online é que esses usos – cada vez mais intensos - causam alterações rápidas e mensuráveis para um circuito neural do cérebro, particularmente, em pessoas sem prévia experiência com computador.

Para testar essa hipótese, planejou-se usarmos escaneamento funcional MRI para medir caminhos neurais do cérebro durante uma tarefa computacional de Internet comum: pesquisar no Google por informações precisas.

 Primeiro precisávamos encontrar pessoas que eram relativamente inexperientes e inocentes com computador. Porque a pesquisa mostrou que de 90 por cento dos adultos jovens são usuários habituais da Internet com o uso da Internet em comparação com menos de 50 por cento dos idosos, sabemos que no geral  as pessoas ingênuas com computador ainda existem  e que elas tendem a ser mais velhas.

Após dificuldade inicial de encontrar pessoas que ainda não tinham utilizados computadores, foram selecionados três voluntários com idade entre 50 e 60 anos e que eram totalmente desprovidos de práticas computacionais ou de tecnologia de computador, mas que estavam  dispostos a experimentar esse uso através de pesquisa observáveis.

Para comparar a atividade cerebral destes três voluntários ingênuos de práticas computacionais, também foram recrutados três voluntários experientes no uso de computador e com idade comparável, sexo e nível socioeconômico. Para essa atividade experimental, optou-se pesquisar no Google para obter informações específicas e precisas sobre uma variedade de tópicos, que vão desde os benefícios de saúde de comer chocolate até planejar uma viagem para Galápagos.

Em seguida, foi realizada uma maneira específica de fazer escaneamento MRI nos voluntários enquanto eles usavam a Internet. Como os participantes do estudo tinham que estar dentro de um tubo longo e estreito de um scanner de MRI durante o experimento, não haveria espaço para um computador, teclado ou mouse. Para recriar a experiência de pesquisa do Google, dentro do scanner os voluntários utilizaram um par de óculos especiais que apresentavam imagens de páginas de sites projetados para simular as condições de uma sessão típica de busca na Internet. O sistema permitiu aos voluntários navegar na tela do computador simulado e fazer escolhas para avançar em sua busca, simplesmente pressionando um dedo em um pequeno teclado, convenientemente posicionado.

Para se certificar de que a MRI do scanner estava medindo o circuito neural que controla pesquisas na Internet, precisou-se identificar outras fontes de estimulação cerebral. Para fazer isso, adicionou-se uma tarefa controle que envolveu os sujeitos do estudo ler páginas de um livro (texto pagus) projetadas através dos óculos especiais durante a MRI. Esta tarefa nos permitiu subtrair a partir das medições de MRI quaisquer ativações cerebrais inespecíficas da simples leitura do texto, com foco em uma imagem visual ou deles se concentrarem especificamente para isso de uma leitura de navegação hipertextual no Google.

Queria-se observar e medir apenas a atividade do cérebro, ou seja, tarefas mentais necessárias para a pesquisa na Internet, tais como a verificação de palavras-chave específicas, rapidamente escolher entre várias alternativas, voltar para uma página anterior, se uma opção de pesquisa particular era ou não útil, bem como, identificar os estímulos cerebrais específicos causados pela visualização de fotos e desenhos, imagens em movimentos e interações de conteúdo midiático que normalmente são exibidos em uma página de Internet.

Finalmente, para determinar o treinamento do cérebro dos voluntários inexperientes de Internet, após a sessão de digitalização, solicitou-se a cada voluntario também pesquisar na Internet por uma hora por dia durante cinco dias. Foi cedido aos voluntários experientes de computador a mesma tarefa e repetiu-se os exames de escaneamentos MRI em ambos os grupos após os cinco dias de utilização do Google e da Internet.

Como havia-se previsto, os cérebros de usuários experientes e dos usuários ingênuos não mostraram qualquer diferença quando eles estavam lendo o livro texto pagus; ambos os grupos tinham anos de experiência nessa tarefa mental e seus cérebros foram bastante familiarizados com a leitura de livros. Por contraste, os dois grupos apresentaram padrões distintos de ativação neural ao pesquisar no Google.

Durante a sessão de linha de base de varredura, os sujeitos experientes utilizaram uma rede específica na parte frontal esquerdo do cérebro, conhecida como o córtex pré-frontal dorso lateral. Os sujeitos inexperientes de Internet mostraram uma ativação mínima, se alguma, nesta região encefálica.

Uma das preocupações na concepção do estudo foi que cinco dias não seria tempo suficiente para observar qualquer alteração, mas pesquisas anteriores sugeriram que até mesmo imigrantes digitais podem treinar seus cérebros de forma relativamente rápida. Nossa hipótese inicial acabou por ser correta. Depois de apenas cinco dias de prática, o mesmo circuito neural exato na parte frontal do cérebro tornou-se ativo nos assuntos dos inexperientes de Internet.
Cinco horas na Internet e os sujeitos ingênuos de uso da rede global já haviam religado os seus cérebros no Google com essa região.

A figura a seguir mostra a rede neural (setas) que uma pesquisa no Google irá acionar após poucos dias de atividade no computador. 



Essa descoberta é muito significativa. Muito importante para a análise dos efeitos do uso da Internet nos nossos cérebros.
Esta área específica do cérebro controla a nossa capacidade de tomar decisões e integrar a informação complexa. Ele também controla o nosso processo mental de integrar sensações e pensamentos, bem como memória de trabalho, que é a nossa capacidade de manter as informações em mente para um curto tempo, o tempo suficiente para gerir uma tarefa de busca na Internet ou discar um número de telefone após obtê-lo do auxílio à lista.

Os voluntários de computador experientes ativaram a mesma região frontal do cérebro no início e tinha um nível semelhante de ativação durante a segunda sessão, sugerindo que para alguém experiente com computador, o treinamento dos circuitos neurais ocorrem relativamente cedo e permanece estável. Mas estes resultados iniciais levantam várias questões sem resposta. Se os nossos cérebros são tão sensíveis à apenas uma hora por dia de exposição ao computador, o que acontece quando nós gastamos mais tempo? E sobre os cérebros de jovens, cujo circuito neural é ainda mais maleável e plástico? O que acontece com seus cérebros quando eles passam em média oito horas por dia com os seus brinquedos e dispositivos de alta tecnologia?

Para isso precisamos entender a importância dessa região cerebral para os humanos e sua implicação para o processo do conhecimento e aprendizagem. Somente assim poderemos entender a importância dessas modificações e do gap geracional e uso indevido de ritalina e outras substâncias inibidoras da atenção é um subproduto de uma atual desconexão desse novo processo com os atuais sistemas educacionais produzidos e massivamente popularizados com o ensino massivo realizado pelas revoluções industriais onde a produção de conhecimento no ensino estava praticamente focado na tarefa disciplina. Provavelmente não é o cérebro dos jovens que estão doentes de excesso de atenção em multitarefas,, mas talvez sejam as nossas instituições escolares que estejam esclerosando. Mas essa tarefa de entender o processo de tomada de decisão no cérebro que foi um processo vital da evolução de nossa espécie (cada vez mais capturada pelo Google e a Internet) fica para outra matéria (aguardem).

Cordialmente,

Dr. Gilson Lima


Ps. Esse texto tem como referência em português o livro Ibrain* (ainda não traduzido em português) que trabalhei com meus alunos de informática e sociedade na UNISC – Cidade de Santa Cruz do Sul – RS –Brasil. 2012.

*Fonte de referência: SMALL, Gary; VORGAN, Gigi. Ibrain: surviving the technological alteration of the modern mind.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

ORTOBRAS LANÇA PRODUTO INOVADOR PARA BENEFICIAR A INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM TETRAPLEGIA - 03/12/2012


Ao completar 30 anos de atuação, mantendo a promessa de inovar constantemente o mercado e fomentando e investindo em pesquisas, a Ortobras lança, no próximo dia 4 de dezembro, às 14h30, um produto inovador e diferenciado. Trata-se de kit de acoplamento computacional integrado a um novo conceito de cadeira de rodas e de atividades clínicas e pedagógicas para a inclusão e alfabetização de crianças com tetraplegia. O evento será na Escola Estadual Cônego Paulo de Nadal (Av. da Cavalhada, 4357), em Porto Alegre/RS, local de execução do projeto-piloto.
O kit pode ser adaptado em qualquer cadeira de rodas. É composto por um notebook configurado para ser usado apenas com o movimento dos olhos, sem a necessidade de abrir algum programa específico, sobre uma bandeja (como se fosse uma mesinha de avião para ficar guardada quando não está em uso). Inclui baterias de autonomia de 16 horas, que possui uma placa que avisa, por meio de voz, quando a carga está no fim.
A ideia é que esse produto ajude as pessoas com paralisia cerebral e tetraplégicos graves, pois não é necessário tocar no computador para operá-lo, o mouse se movimenta com os olhos e o clique é feito pelo piscar”, salienta o engenheiro e diretor comercial da Ortobras, Jonathan Hummel.
Dr. Gilson Lima e Fernanda
 Xavier na cadeira

Com financiamento do CNPq e apoio da Secretaria Estadual de Educação, da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI SDPI) do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, do Centro de Microgravidade PUC/RS e do Research Committee on Clinical Sociology - International Sociology Association, a coordenação geral da pesquisa para elaboração do kit ficou a cargo do pesquisador do CNPq, Dr. Gilson Lima. De acordo com ele, o lançamento da Ortobras é um produto-conceito, mas que a empresa pretende disponibilizar em breve em escala de produção industrial.Como na indústria automobilística, por exemplo, a ideia de produto-conceito é muito bem aceita pela mídia e pelo mercado em geral. A sugestão, aqui, é um novo conceito de cadeira de rodas, que amplia a atual concepção de cadeira como assistência de déficit motor”, defende.

“É a tecnologia a serviço da educação inclusiva”, ratifica Jonathan Hummel.


http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=110320